Riscos
Descrevem-se os riscos associados aos antioxidantes. Na ausência de informação mais específica por enquanto o melhor conselho é fazer uma dieta equilibrada sem suplementos. De salientar que por suplementação não se menciona apenas comprimidos com antioxidantes ou extractos herbais, mas também os chamados alimentos funcionais, que contém aditivos supostamente benéficos para a saúde. É comum a publicidade a alimentos suplementados com antioxidantes, estando cada vez mais disponíveis este tipo de alimentos. No entanto, as evidências científicas não apoiam de modo algum a introdução desses suplementos de antioxidantes nos alimentos. Pelo contrário, uma dieta equilibrada rica em verduras e frutos pode ser de facto benéfica.
Antioxidantes que se transformam em pro-oxidantes
A definição mais comum de um antioxidante ser uma substância capaz de inibir a oxidação de um substrato quando presente a concentrações mais baixas que esse substrato, esconde o facto de antioxidantes e oxidantes terem uma natureza química semelhante e participarem no mesmo tipo de reacções. Uma definição talvez mais apropriada é de um antioxidante ser um oxidante fraco e um oxidante ser um oxidante forte. Tendo em conta esta definição será mais fácil de compreender que os antioxidantes podem, em algumas circunstâncias, ter uma acção pro-oxidante. Existem evidências experimentais da vitamina E, usualmente um antioxidante que previne as oxidações no plasma, poder transformar-se num pro-oxidante quando presente a níveis elevados. Esta é uma chamada de atenção para um potencial risco associado a níveis de antioxidantes excessivos, podendo uma dieta demasiado rica em antioxidantes não ser benéfica.
Antioxidantes removem oxidantes benéficos
A noção dos efeitos benéficos dos oxidantes parte do pressuposto da perigosidade dos oxidantes para a saúde, devendo portanto ser eliminados. No entanto, nos últimos 20 anos, têm vindo a acumular-se evidências sobre as funções desempenhadas pelos oxidantes serem muito importantes para a saúde. A sua remoção pode portanto ser prejudicial. Estas informações são muitos importantes e impedem uma visão a preto branco dos antioxidantes serem benéficos para a saúde e os oxidantes serem prejudicais. Fica claro hoje, que a dosagem é muito importante. Um nível de oxidante demasiado alto é prejudicial, mas demasiado baixo também o é. Ou seja, a quantidade de antioxidante ingerida na dieta apresenta-se como um factor muito importante para perceber se o antioxidante é benéfico ou prejudicial. Obviamente, este cenário tem uma complexidade muito superior ao cenário a preto e branco em que os antioxidantes são benéficos e os oxidantes são prejudiciais, mas as visões a preto e branco raramente têm correspondência com a realidade. Como decidir então sobre as doses óptimas dos antioxidantes?
Ensaios clínicos
Dada a complexidade dos efeitos biológicos dos antioxidantes, o único modo científico para se determinar qual a dosagem óptima é através de ensaios clínicos, semelhantes aos desenvolvidos para os fármacos. Colocam-se no entanto dois obstáculos a este procedimento. Dado que se está a averiguar se os antioxidantes têm efeitos preventivos a longo prazo na incidência de doenças (cancro, problemas cardiovasculares ou doenças neurodegenerativas) a duração dos ensaios clínicos é muito longa o que aumenta muito a despesa associada a estes estudos. Por outro lado, não havendo patentes associadas aos antioxidantes, significa que as grandes empresas farmacêuticas não têm interesse económico em realizar estes estudos. Ficam assim apenas disponíveis fundos públicos ou de entidades sem fins lucrativos para apoiar esta investigação. Estas limitações justificam que o número de ensaios clínicos com um número de intervenientes e com a duração necessária não sejam abundantes.
Ainda assim, já se realizaram alguns ensaios clínicos com antioxidantes. Brevemente descrevem-se alguns destes ensaios.
No estudo ATBC, um total de 29.133 homens fumadores entre os 50 e os 69 anos de idade, do sudoeste da Finlândia, foram aleatoriamente distribuídos por quatro grupos que receberam os suplementos seguintes: vitamina E (50 UI por dia), beta-caroteno, (20 mg por dia), vitamina E mais beta-caroteno, ou placebo (comprimido sem antioxidantes). O estudo durou cinco a oito anos. Observou-se um aumento na incidência do cancro do pulmão de 18 % nos grupos suplementados com beta-caroteno, independentemente da suplementação com vitamina E. Um outro estudo, com 18314 indivíduos chegou a conclusões semelhantes.
Um dos maiores estudos efectuados até hoje, o SELECT, iniciou-se em 2001. O objectivo inicial era determinar se 7 a 12 anos de suplementação diária de vitamina E (400 UI, como dl-alfa-tocoferol), com ou sem o selénio (200 microg, como L -selenometionina), reduziria o número de cancros da próstata. O estudo foi constituído por 35 533 homens saudáveis com 50 anos ou mais. A suplementação diária foi interrompida em Outubro de 2008, quando uma análise mostrou que a suplementação com vitamina E sozinha ou em conjugação com o selénio durante 5,5 anos, não diminuiu a incidência de cancro da próstata. Após 2008, a observação da incidência dos cancro foi continuada, tendo-se observado que os homens do grupo suplementado com vitamina E tinham 17 por cento maior risco de cancro da próstata em relação a homens do grupo placebo, uma diferença estatisticamente significativa.
Por outro lado, existem dois ensaios clínicos em que se observaram efeitos positivos da suplementação combinada com vitamina E, vitamina C e beta-caroteno. No entanto, estes ensaios foram realizados numa região da china (Linxian), onde existia má nutrição na altura da intervenção e uma alta incidência dos cancros do isófago e do estomago. Este estudo teve ainda a particularidade da dose da vitamina E ser muito inferior (45 UI) à utilizada no SELECT (400 UI). Uma meta-análise de vários ensaios clínicos mostrou que os efeitos benéficos da suplementação da vitamina E tendem a ser observados para suplementações baixas (inferiores a 100 UI), enquanto para valores superiores tendem a ser observados efeitos prejudicais.
No geral estes estudos indicam que suplementações com grandes quantidades de antioxidantes não são benéficas. Mas uma dieta equilibrada rica em verduras e frutos pode ser de facto benéfica.